quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A VELA, A ESPIRITUALIDADE E O CATEQUISTA


“Eis o que eu aprendi
nesses vales
onde se afundam os poentes:
afinal tudo são luzes
e a gente se acende é nos outros.
A vida é um fogo,
nós somos suas breves
incandescências.”
(Mia Couto - In: Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra) 

Excepcional para nós iniciar essa troca de ideias e experiências sobre espiritualidade. Desde que nos entendemos por catequistas passamos a compreendê-la na prática pastoral como pressuposto inafastável à verdadeira transmissão da fé e à própria fé em si mesma. Uma singela compreensão do que vem a ser a espiritualidade, sua relação com a vida cristã e com a transmissão da fé nos permitirá compreender melhor o que aqui se afirma, é o que passamos a fazer.
Optamos por tentar esclarecer esses conceitos por meio de uma singela alegoria com um elemento muito usual, tanto nas práticas espirituais e litúrgicas de nossa fé, quanto em nossos encontros de catequese: A VELA.

1.      A vela: a parafina, o calor e o fogo.
Quantas vezes já observamos com cuidado uma vela? De várias cores, tamanhos, formatos... As de nosso tempo em regra são muito simples, formadas basicamente por um pedaço maciço de parafina (em regra em formato cilíndrico) onde se encontra um pavio, esse geralmente de algodão.


Mas a vela não se realiza (enquanto vela) se não chega a ser acesa. Apenas exerce o papel para o qual foi criada no momento que, em contato com uma fonte de calor, tem acessa sua chama.
E o que é preciso para que uma vela seja acesa? Recordando um pouco as aulas primárias de ciências nos damos conta de que são necessárias 3 (três) coisas para que haja fogo: um combustível, um comburente e uma fonte de calor;
Em nosso exemplo, e no momento que acendemos uma vela, a parafina será o combustível; o oxigênio à volta da vela será o comburente e chama que utilizamos para acendê-la será a fonte de calor. A ausência de qualquer um desses elementos não permitirá que haja o fogo.
Mas onde entra a espiritualidade?

2.      A espiritualidade: Um eu, um Deus e um outro.
Após nossa pequena revisão de ciências podemos continuar, com facilidade, nossa alegoria. Assim é que somos todos como velas, algumas maiores outras menores, de vários materiais e de várias cores, mas somos todos velas.

2.1.   Um eu
Alguns somos velas apagadas, outros temos chamas pequenas (por estarmos com nosso pavio muito curto ou embebido em nossa própria parafina) e outros, por fim, temos chamas fortes e brilhantes. Essa chama... esse fogo... é, em nossa alegoria, o que entendemos por espiritualidade.
A espiritualidade é como uma chama que nos permite ver com outro olhar o mundo à nossa volta, ver detalhes, ver outras perspectivas, sair da escuridão. É ainda uma chama que nos protege, nos aquece e nos permite exercer o papel para o qual fomos criados.

2.2.   Um Deus
Mas na medida de que todos somos velas para que nos acendamos não basta a nossa parafina, precisamos de mais. Em nossa alegoria a nossa fonte de calor é o próprio Deus. Sem termos um verdadeiro encontro com Deus não é possível falar na verdadeira espiritualidade cristã, não será possível falar em fogo. A espiritualidade pressupõe o encontro pessoal, quem está distante da fonte de calor não pode ter sua chama acesa.

2.3.   Um outro
Mas ainda faltará outro elemento para que nossa alegoria reste completa, o que em nossa vela foi o oxigênio à sua volta, em nosso caso são os outros irmãos. É um erro pensar na espiritualidade como uma relação apenas entre um Eu e um Deus sem a presença de um outro. Esse risco é muito presente em nossos dias.
Quem nos alerta nesse sentido é o próprio Papa Francisco em sua mais recente exortação apostólica Evangelii Gaudium ao afirmar “Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem.”(Francisco, Exort. Ap. Evangelii Gaudium. 24/11/2013, 2).
Isso também acontece muito na prática de nossa alegoria. Quantas vezes não precisamos limpar a própria parafina que acabou por esconder o pavio e impedi-lo de receber ou transmitir qualquer calor?
Assim, também sem o outro, não há espiritualidade do mesmo modo que sem o oxigênio não haverá chama.

3.      O catequista: um possuir a vela acesa, um manter-se com a vela acesa e um acender a vela do outro
E como esta dinâmica se concretiza na vocação do catequista?

3.1.   Um possuir a vela acesa
A pessoa do catequista necessariamente deve possuir sua vela acesa, não é possível acender a vela alheia se a própria vela se encontra apagada. Se um catequista não cultiva sua espiritualidade pode ser tudo menos catequista. Assim é que no ser do catequista é pressuposta uma vela acesa.

3.2.   Um manter-se com a vela acesa
Mas o catequista, também por seu papel na missão evangelizadora da Igreja, se submete a uma maior exigência em sua relação com Deus. Novamente com o Para Francisco é possível dizer : “O coração do catequista vive sempre esse movimento de “sístole – diástole”: união com Jesus, encontro com o outro. Sístole – diástole”. (Francisco, Discurso aos catequistas. 27/09/2013).
Assim, o catequista precisa manter-se com a vela acesa e para isso é preciso estar cotidianamente em intimidade com Deus. No contrário corre-se o risco de ter enfraquecida sua chama.


3.3.   Um aceder a vela do outro


Como uma vela que se acende e um cristão que cultiva sua espiritualidade, um catequista só encontra sua razão de ser no acender a vela do outro, no transmitir a espiritualidade e a própria fé. Essa transmissão exigirá: uma vela acesa, um contato permanente com Deus e um consumir-se para transmitir o maior dom que possui. Essa é a essência da espiritualidade do catequista.


Crisley Galdino e Matheus Galdino

(http://catequesenordeste3.blogspot.com.br/2014/08/a-vela-espiritualidade-e-o-catequista.html)

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